A LUTA
Bom dia, amiga Vida. A semana está começando. Ontem não te escrevi. Era domingo. Resolvi me socializar um pouco com os que amo e conhecer outros para amar. Sabe, minha alma é leve, encanta-se facilmente com a vida, e de quando em vez vejo-me entregue às trocas de experiências salutares com outros de minha espécie. Sou de paz, tento manter o equilíbrio da boa ordem relacional com todos.

Separei folhas velhas pelo chão, com o vento da minha velocidade. Senti-me, nalguns momentos, sufocado, cansado. Mas a minha condição momentânea não se sobrepunha ao desejo de me ver ressarcido de tal lesão. Tornei-me maratonista em busca de um troféu. Mas era muito mais o que estava em jogo.
Decepcionante, entretanto, era sentir-me cada vez mais distante. Alcançar o meu alvo estava se tornando utópico, quase miraculoso ato. Mas eu não desistia. Sabe, dona Vida, quando se corre sabendo que alguma coisa vai decerto acontecer, mesmo não sabendo o quê? Era isso que me inundava a mente, fazendo com que meus músculos fossem oxigenados mais que o normal.
Foi aí que, não mais que de repente, alcancei... Quem? O quê? - me questionas. Na verdade, nem eu sabia. Joguei-me sobre ele - ou ela, ou alguma coisa? - e começamos a travar um duelo campal. Golpeei. Fui golpeado. Meu adversário era exímio lutador. Tentava eu me defender com a medida possível da minha capacidade. Mas os golpes eram duros e me explodiam em áreas do corpo que minavam as minhas defesas. Cirurgicamente, pontuou-me
certeira pancada na minha perseverança; depois, com a destreza de um grande guerreiro, acertou-me na região da paciência. Fiquei fraco e quase não dava para respirar. Noutro instante, direcionou-me
um soco direto na minha capacidade de ser coerente.
Minhas forças foram se diluindo. Como se não bastasse, golpeou-me os sonhos. Era uma luta quase desigual. Parece que o meu oponente sabia a intensidade dos murros e o local a serem objetivados. Tentei proteger-me de todas as formas. Afastei-me. Abaixei-me. Fui para a direita e para a esquerda. De súbito, dona Vida, vi que já havia sangue por todas as partes.
O embate já era apenas um batendo e outro apanhando. Recebi uma profunda pancada na razão. Meu corpo todo sentiu. Minha consciência sofreu duro soco. E meu adversário parecia não sentir nada. Minhas investidas não surtiam efeito. Quanto mais eu batia, mais ele ficava em pé, e quanto mais eu apanhava, mais perto eu declarava meu fim. Fragmentou-me a alegria, a disposição, e enfraqueceu-me o caráter. Já quase não restava nada de mim. Mas eu lutava como se ainda tivesse tudo para apostar.
Sofri uma forte lesão na minha condição de conceber laços com outros; não demorou me fustigou um ferimento na minha paz. Esse encontro já demorava bastante e eu já não sabia quanto tempo poderia suportar. Mas meu senso e inteligência guiaram meus punhos. Bum!... Acertei mortalmente aquele gladiador. Onde lhe feri? - me perguntas. Na própria fraqueza dele: Eu.
Tomei o que me roubava. Então, percebi o que era: meu futuro. Estás surpresa mais uma vez, digníssima Vida? Também eu. Mas aprendi que mesmo não o conhecendo - meu futuro - ele me pertencia. E foi necessário derrotar o maior adversário, que corria velozmente contra mim, mantendo duro duelo, estratégico, perspicaz, diligente, sagaz.
É, dona Vida, de quando em vez sou guerreiro e defendo, com minha existência, até o que vou ser, pois não sabendo como será, mais proteção o meu futuro merece do meu presente.
30.03.15
By Jahilton Magno