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MENOS MIMOS E MAIS VIDA


MENOS MIMOS E MAIS VIDA 
Nascer, crescer e morrer. Assim podemos definir e encerrar a experiência de existência do ser humano. O nascimento é, em si, um dos mais sublimes acontecimentos, dentro dos incontáveis nos quais o homem tem a experiência de estar inserido.  
Crescer é o longo processo por que temos que caminhar, e, nele, vamos nos descobrindo e encontrando-nos  ou desencontrando. Na estrada do crescimento, deparamo-nos com as alegrias da vida, ora com as decepções, afortunamo-nos por vezes, ora encontramo-nos com os algozes. Essa imutável realidade vai gerando em nós o conhecimento do que verdadeiramente é a vida e de que substância na verdade ela é formada.  
Morrer é o ato final. É o ato que não praticamos.  Somos o ator principal, mas na verdade a única atitude que de nós se exige é estar vivo. É desconexo, talvez, mas é a realidade. Morrer está na contramão da nossa decisão – se bem que é verdade que em muitos casos parece que não, mas isso agora não vou discutir. Morrer é o ponto final da história, no que diz respeito à existência da matéria no plano do que se concebe na visão do palpável, tangível, mensurável, visível, possível e realizável. Creio assim, e tenho minhas convicções para assim pensar. Mas não quero tratar sobre isso agora, quem sabe num outro texto neste blog.  
Apenas quis discorrer sobre estes três verbos, nos quais, indissociavelmente, estão atrelados a nossa vida, o que construímos, o que pensamos, ou acreditamos. No entanto, quero focar no verbo crescer. Sem buscar etimologicamente o sentido da palavra, quando pensamos em ‘crescer’, vem-nos à memoria  creio  progresso, avanço, mudança, transformações, etc.. A vida nos exige naturalmente isso. Crescer, invariavelmente, direciona-nos a novas realidadesdesprendimento de antigas práticas, encontro com descobertas, dolorosas mas necessárias confrontações, quebra de paradigmas, desassociação com o já estabelecido ou instituído. Enfim, pensar em crescer, é pensar em rupturas.  É impossível fugir a isso. 
Mas, ao longo da vida, vamos identificando, muitas vezes em nós, uma direção totalmente contrária a essa naturalidade na qual a nossa existência tem que seguir. Por quê? Talvez poderíamos elencar aqui uma série de questões a serem discutidas e que exigiriam muito tempo de nós. Não obstante, atrevo-me a descrever apenas uma com a qual creio evidenciar de forma mais contundente essa doença: CONVENIÊNCIA. Isso mesmo, é conveniente ficar na zona de conforto e não se arriscar a ter que aprender e mudar. É o que chamo de paradigma do conformismo, onde não há crescimento, não há progresso, não há rupturas e consequentemente não há mudanças nem superficiais nem estruturais. Ou seja, um verdadeiro estado de estagnação e letargia. 
Podemos aplicar isso à várias áreas da vida. Mas quero focar aqui mais precisamente em nosso interior, no que diz respeito aos nossos valores. Porque quando mexemos com nossos valores, estamos tocando nas convicções nas quais alicerçamos a nossa vida e a nossa conduta. Os valores regem a nossa vida; são as nossas ideologias, filosofias, tradições, experiências que nos guiam. Tudo isso conta. Verdadeiramente quando agimos de forma 'x'ou 'y' estamos externando nossos valores e padrões. No momento das atitudes, conhecemos os dogmas que estão arraigados à nossa formação interior.  
Por isso, ouso dizer que existem pessoas que não querem crescer de maneira nenhuma, e dão-se à inconveniente via da bajulação e da companhia ininterrupta dos que os cercam. Seus traços parecem ser de eternas crianças, mimadas pelos mais velhos – e, às vezes, até mesmo pelos mais novos –, pois não se veem desapropriados do luxo e do conforto de serem cuidados por outro ser. Infelizmente, assim é, porque tais seres humanos não arriscam viver a trilha do crescimento, da vida, da possibilidade de quebrar a cara para aprender, ou de se sentir só em determinados momentos da sua existência, momentos esses que são necessários para a construção do caráter e da personalidade. Os valores que carregam dentro em si gladiam-se com a realidade que os cerca, de modo que  é mais aconchegante permanecer onde se está que se aventurar ao desconhecido, ao improvável, ao incerto. 
Mentes assim, sepultam em si mesmas as suas almas. Engessam as fronteiras que se abrem para a METANOIA (μετανοεῖν) – mudança de pensamento, de ideia – da qual o apóstolo Paulo fala no novo testamento. Nunca ocorre, na existência dessas pessoas, transformações que são esperadas e dignas. O equilíbrio se distancia, de modo que as decisões que tomam demonstram total incapacidade de evidenciar crescimento. 
O caminho do crescimento, no entanto, exige envolvimento com a vida, exige andar o caminho da oração, buscar a sensibilidade que vem do alto para chorar com os que choram e sorrir com os que sorriem. Crescimento é sinônimo do abraço com a vida que percebe pecados, mas que não concebe farisaísmo; crescimento permite a vida de perdão, e a certeza que laços podem ser reconstruídos; crescimento sinaliza mudanças de rotas, quebra de paradigmas, sendo que uma verdadeira teologia brota de corações piedosos e sedentos de conhecimento da pessoa de Deus.  


Enfim, o de que precisamos é de envolvimento com a vida; é necessário crescer, envolver-se em comunhão, sem medo e com transparência, de modo que a confrontação seja em amor e humildade, resultando em uma comunidade sadia e refletindo a graça e o milagre de vidas transformadas em Cristo. Crescimento é sinônimo de amadurecimento e somente quem anela galgar uma profunda relação de intimidade com o Salvador se permite direcionar-se assim. Ter tal atitude evidencia em nós crescimento, e consequentemente nos guarda da permissividade de ser mimado e garante-nos encontro com a maturidade. Necessitamos de mais vida e menos mimo., rompendo com a conveniência da zona de conforto que cada um de nós tem. É vida de Deus de que precisamos!  
Busquemos isso em Deus. 

NEle, que nos oferece crescimento e transformação na alma como prova do seu grande poder milagroso. 
Jahilton Magno 
São Luís, 

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