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BONS AOS NOSSOS PRÓPRIOS OLHOS


"Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos." Isaias 6.5

O nosso padrão está sempre certo. Ao longo da vida abraçamos modelos e somos criados numa sociedade que nos ensina o que ela abraça como certo ou errado e naquilo acreditamos e moldamos a nossa vida. Vivemos ao longo da nossa estrada com essas setas de direcionamento que indicam como devemos e como não devemos nos comportar. Estamos inseridos numa conjuntura que sinaliza suas formas, suas manias, seus dogmas, seus paradigmas, suas filosofias. No fundo de nós, quando nos deparamos diante de situações que exigem decisões éticas ou comportamentais, somos guiados por uma linha de conduta pessoal e às vezes vão até de encontro com os da própria sociedade. Porque o comportar-se e o que fazer de certo ou errado tornou-se relativo hoje em dia. O que um dia é certo, no outro já toma uma cara de “depende do ponto de vista”. O certo e o errado ficam relativizados aos conceitos de quem precisa tomar decisões, ou seja, depende da cabeça de cada um.
O mundo é assim, as cabeças hoje estão pensando assim, e os comportamentos variam de dia em dia, dependendo às vezes até mesmo de como está o humor e o espírito do ser humano em determinado momento. Não se consegue ter um código viável e seguro de um padrão ético do que seja certo ou errado, porque os julgamentos são volúveis, inconstantes, transitórios, mutáveis. Mas a verdade é que o que é errado está cada vez mais sendo camuflado com as pseudo-máscaras da relativização.  Não existe meio-termo. O que é certo é certo, assim como o que é errado é errado. Porém, ao longo da nossa experiência de vida, vamos aglomerando aos nossos valores conceitos errados, comportamentos questionáveis, atitudes contraditórias, paradigmas, controversos, enfim, uma gama de princípios totalmente incabíveis segundo o ponto de vista de Deus. Agimos assim e não o percebemos. Acostumamo-nos ao errado e o conceituamos de correto; abraçamos vivências incorretas e até brigamos por elas quando contraditas; lutamos por causas estúpidas ferozmente como se estivéssemos defendendo a própria vida; sentimo-nos incomodados quando não concordam com a nossa forma de pensar, agir e ver as coisas; descrevemo-nos como insultados quando dizem que aquilo que temos como certo é questionado.
Então, o que tem isso a ver com o texto? Simples: Isaias era um homem que tinha defeitos, comportamento humano, como ele mesmo disse de lábios impuros, habita no meio de um povo corrompido, tinha todo um histórico questionável. Era um homem com seus valores arraigados ao mais íntimo da sua alma, com suas atitudes, que ele considerava corretas, com seus paradigmas formados, com suas idéias enraizadas dentro de si. Poderia julgar as suas atitudes como certas e o seu padrão como conscientemente ilibado. Mas existiu na vida de Isaias um momento em que as coisas mudaram: quando ele se deparou com o padrão de Deus. A perspectiva que temos de nós mesmos, assim como dos nossos valores e dos nossos padrões nunca será correta enquanto não tivermos a abençoada oportunidade de nos depararmos com a santidade de Deus. Ao nos confrontarmos com a santidade de Deus, verdadeiramente os nossos olhos se abrirão, a nossa mente se iluminará e a nossa consciência será tomada de valores corretos e padrão elevado, o que nos fará confessar: ai de mim que sou um homem de lábios impuros. Não existe mudança de mente (metanóia) sem que não se esteja na presença de Deus. Diante da santidade de Deus os mais íntimos desejos são expostos, a podridão do nosso caráter fica evidenciada e nós, indiscutivelmente, somos desnudados. Não há como hesitar, não há o que esconder, e não há do que se desculpar. Porque diante da santidade de Deus nossos argumentos tornam-se apenas ínfimas silabações incapazes. A luz de Deus invade a mais densa escuridão dos porões da nossa alma. Nada vai ficar oculto e o resultado disso é a consciência de que estamos totalmente errados em nossas filosofias, em nossos paradigmas, em nossos dogmas, em nossas atitudes, em nossas intenções, em nossos comportamentos.
Esse é o resultado de um encontro com Deus, com a santidade de Deus, com a verdade de Deus, com o poder de Deus. É essa uma das verdades que Deus ensina nesse pequeno texto: sempre seremos auto-justificáveis e cheios pelos nossos comportamentos enquanto não nos depararmos com o Santo. Mas a partir do momento que nos confrontarmos com Ele saberemos do nosso real e verdadeiro estado, sem rodeios e máscaras, sem falsidade e desculpas. Porque é impossível apreciar a santidade de Deus sem perceber a escuridão que existe em nosso íntimo.

Naquele, cuja santidade revela o verdadeiro estado do coração humano.
Jahilton Magno
São Luís, 02.02.11

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