Com o tempo a gente vai entendendo tanto a razão de ser como a de não ser das coisas. Entendemos o porquê da dor quando um abraço é desejado e não o temos. Entendemos quando a alma sente necessidade de amizade e apenas de simples – mas extremamente vital – companhia. Talvez porque a ausência com a qual se convive de forma tão dolorosa se instale também de forma tão ímpar. O incômodo trazido pelo buraco deixado reflete na alma pinceladas de quadros tão bem desenhados, inspirados simplesmente pela leveza da própria vida e pelos instantes vividos numa órbita de entrega pelo fato apenas de ser que tem que ser. Creio que por isso começamos a entender a razão de ser das coisas.
Mas consigo pensar na desconstrução do que existe e vai se esvaindo na decomposição do que já não é. O brilho do sorriso esvai-se como que lentamente, deixando apenas um rosto normal, ainda que momentaneamente umedecido por lágrimas que talvez não estejam chorando a perda do que foi, mas de ter perdido tempo e não ter dado certo e não ter sido. O que era amor talvez chega a um momento de questionamentos: ‘era mesmo?’.
Pergunto-me por que não se consegue ver adiante um futuro de esvaziamento e mudança de estados o coração e a mente. Deus ensina através das vivências, quaisquer que tenham sido, com quem quer que se tenha vivido e quaisquer resultados que se tenha alcançado. As lições que se juntam entre os cacos do coração e da alma ajudarão a construir sólidas experiências.
A razão de não ser das coisas pode ser tão construtiva quanto a de ser, pois ambas ensinam que o coração é palco da vida, onde somos os atores, ora vivendo em ambientes de puro amor, esperanças, alegrias, cumplicidade, normalidade, dependência, aconchego, coragem, amizade, superação, confiança, paixão, fogo, tesão, sexualidade, contracenando como principal ou coadjuvante; ora vivendo o sufoco, o desamor, falta de compreensão, mentira, falsidade, ciúme desproporcional, falta de objetivo mútuo, infidelidade, na contramão do projeto de Deus.
Compreendemos então que a razão de ser e de não ser se estabelece na eira das vivências, entre sorrisos e lágrimas, entre filhos que ficam, ou que nunca ficaram porque nunca existiram, ou que foram adquiridos; entre bens que se dividem ou se amontoam; entre perdão que mostra amor para a reconstrução, ou com a falta dele que encerra e decreta em si o fim da relação; entre o abraço tão desejado que sabe se vai ter ao final da tarde, quando um dia de trabalho finda e a volta para casa é certa como certo é ar que se respira; ou como a certeza de que ainda havendo presença, abraço é última coisa que se desejará porque ele não tem feito tanta falta.
A razão de ser se emoldura no sorriso compartilhado, nos olhos que atentam para o outro com gosto de 'quero porque te amo’. A razão de ser se constrói na companhia em meio à dor, quando todos viram as costas, e estende-se ai a mão da prova do que é verdadeiro. A razão de ser se alimenta do calor do elogio, da busca em saber o que está causando qualquer desconforto na alma, ou no coração. Qualquer alteração da velocidade normal da vida e dos passos é motivo para perguntas que objetivam tão somente o bem-estar.
Porém, a razão de não ser de algumas coisas se alicerça na falta de cuidado; a razão de não ser abre as comportas da altivez, da solidão e falta de apoio; a razão de não ser escancara-se abertamente em meio à frieza que trata o ser, ou melhor, não existe um tratar, mas o destratar da alma; a razão de ser escreve linhas na falta da busca do interesse ao próximo; a razão de não ser ecoa com o desfazer de sonhos que se perdem porque já não existe mais força para existir.
Com o tempo, a gente vai aprendendo a razão de ser e de não ser das coisas, porque em sendo ou não sendo, vai deixando marcas profundas com as quais vamos conviver o resto da vida, onde seremos machucados por elas ou muito gratos a Deus por essas experiências. Com o tempo, a gente vai aprendendo que o tempo é o útero das nossas construções: aos nove meses das experiências tão pessoais, tão Íntimas, veremos o resultado do que era para ser ou não ser. E aí a gente vai aprendendo qual a razão das coisas.
Jahilton Magno
São Luís, 01.04.11
Esse grande amigo, possui uam super fonte de inspiração, parabéns meu preto
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