João e João. O Centro Histórico de São Luís estava muito movimentado. Pessoas caminhavam de um lado a outro. A vida se desdobrava nesse vaivém necessário e contínuo. Olhos nem se cruzavam. Gente parecia nem perceber gente. Ambulantes, médicos, frentistas, advogados alunos, professores. Toda sorte de pessoas se esbarrava, sem que suas histórias sequer fossem conhecidas. João — talvez pedreiro, ou carpinteiro, ou motorista, quem sabe qualquer profissão —, na velocidade ou calmaria da sua vida, parou o passo, atentou para o chão, sob a sombra da árvore: viu um disjuntor. Isso, um disjuntor. Observou com calma. Fixou um pouco mais, abaixou-se e pegou. Sacudiu com cautela, como quem toma em mãos uma lâmpada mágica em busca de um gênio. Soprou. Tirou a poeira. Analisou se estava boa. Mas não poderia testar. Aproveitou para descansar, pois estava exausto e suado. O sol era escaldante. Ficou com aquela pequena peça na mão. O que fazer? Pensou estar perdendo tempo. Olhou de um
Cara Vida, boa tarde. Fazia tempo que a ti eu não escrevia. E, verdade, há um bom tempo que eu não sabia mesmo qual era a sensação desse encontro. Perdoe-me o hiato. É que eu pensava que precisava estar holisticamente em equilíbrio para garatujar algumas modestas vivências. Decerto, equivoquei-me quando pensei que precisava de algum estado de alma para fazê-lo. Punivelmente errado. Bem concluí que minh’alma se embebeda todo dia, ainda que não de uma só vez, de todos os sentimentos que tomam o homem. Sinto amor ou ódio, alegria ou tristeza, esperança ou dúvida, coragem e medo, inveja ou altruísmo, ou tantos outros inerentes ao homem. Entendi que minha alma é de fases, mas que não preciso delas para convidar a tinta e a caneta para que nos debrucemos uns sobre os outros. Reconsidera meu afastamento, imploro. De quando em vez, algumas lacunas da normalidade são necessárias para nos devolver a consciência do que de fato somos e do que porventura possamos estar nos