Quando começamos a nos entender como pessoas, não nos damos conta de que, independente da nossa capacidade de perceber o mundo e tudo que nos cerca, aprendemos a andar caminhos que na verdade nem viu em nós a possibilidade de escolhe-los ou não. A vida vai nos causando, muitas vezes, essa fôrma engessante, de modo que os nossos passos vão se direcionando em vias as mais variadas. Somos ensinados, ou melhor adequados aos moldes, robotizados e adestrados a trilhar tais pavimentações.
São apresentados tantos caminhos. Alguns certos, outros totalmente errados. Uns sem volta, infelizmente; outros tem o retorno amargo das dores e das lamentações. Uns trazem o sabor da doçura da obediência às palavras da mães; outros trazem o sentimento de dissabor em desobediências aos mesmos conselhos.
Nos dias de hoje, a juventude está se destruindo com as drogas. E tudo sempre é apresentado como um novo caminho, uma nova experiência. A sociedade parece de mãos atadas para a forma como os jovens abismam-se com velocidade incontrolável. Famílias choram, pais se lamentam, mães sofrem a dor, muitas vezes da ida sem volta dos filhos.
Semelhantemente os políticos passam por uma crise de integridade sem precedentes, e os caminhos que estão trilhando lhes parecem tão corretos e normais. Há um abuso na direção do errado. Parece que a única via que existe para passear é a da corrupção e da desonestidade. Os valores foram esquecidos e a relativização do que se pode conceituar como certo ou errado é a bandeira que se estende nas mentes de hoje. Tudo não passa de um ponto de vista, e o caminho que se escolhe não faz diferença.
Existem tantos caminhos, tantas direções, tantas vias, tantas passarelas por onde podemos desfilar nossas ideias e escolhas. Afastando as que aparentemente se nos apresentam como possíveis de serem 'preferidas', há direções que involuntariamente abraçamos como padrão para o no final da nossa corrida. Nelas, trilhamos os anos da nossa existência, alicerçamos os padrões da nossa conduta, perpetuamos os dias que nos são dados para viver e muitas vezes neles perpetuamos e enterramos toda a nossa história. Sobre elas, estabelecemos, na finalidade das nossas vidas, a lápide na qual acreditamos durante os anos que tivemos sobre a terra.
São caminhos, são vias que a vida apresenta e indiscutível e involuntariamente estão à frente dos nossos olhos, mexendo com as nossas volições e exigindo de nós uma atitude, pois eles não se apresentam neutros e não conseguem também em nós causar neutralidade. Não passam despercebidos. Pelo contrário, aguçam as nossas interioridade e causam em nós a necessidade de agir sobre a possibilidade que está diante da nossa capacidade de escolha.
Diante de todo esse turbilhão de possibilidade, de chances, de caminhos e de vias, o Salmista nos apresenta, no Salmo 86.1, uma oração que vai de encontro a tudo isso: Ensina-me, SENHOR, o teu caminho. Existe a necessidade de aprender qual o caminho correto. As opções são muitas. Mas existem muitos caminhos errados. Errados em vários sentidos e em vários segmentos da vida. Porém, diante de todas essas vertentes que se apresentam na vida, o salmista ora ao Pai: Ensina-me o teu caminho. O caminho de Deus era o desejo do salmista. Frente à avalanche de convites, Ele ansiava por essa revelação que só lhe era possível se ensinada pelo próprio conhecedor do caminho. Aqui aprendemos duas coisas muito importantes: primeira, deve haver o desejo de aprender o caminho de Deus; segunda, somente Deus pode ensinar esse caminho. A própria palavra de Deus ensina em Pv 16.25: Há caminho que parece direito ao homem, mas afinal são caminhos de morte. Isso nos mostra que podemos incorrer no erro de conceituar como correto o caminho que estamos andando, mas verdadeiramente não temos ideia de que o final não será bom. Percebemos, então, que estamos diante de três possibilidades: o caminho certo - que é o de Deus e que necessariamente temos que aprender com Ele; o caminho que aparentemente é correto, porque assim nós o vemos com a nossa míope visão da vida; e o caminho que a vida apresenta e que se perpetua por gerações e que também perpetuamos e abraçamos como corretos sem perceber.
Surge então a oração de Davi: Ensina-me, SENHOR, o teu caminho. A única chance de não nos defrontarmos com a decepção ao final do caminho da escolha errada, é escolhermos o caminho do Senhor, é escolhermos o caminho correto. Porém, fica claro que o salmista afirma na continuação do versículo: e andarei na tua verdade. É impossível andar na verdade de Deus e caminhar uma trilha correta se não existir o ensinamento e o direcionamento vindos da parte do Senhor. Andar na verdade só é possível na via da companhia e da pedagogia de Pai. Afora isso, cambalearemos em nossas imbecis escolhas, patinaremos nas escorregadias vias do desprezo pela lei de Deus, sofreremos consequências tremendas, e direcionaremos o carro da nossa vida numa velocidade incontrolável para buracos e abismos abaixo. Porque as nossas escolhas e os nossos caminhos, que tanto achamos que são corretos aos nossos olhos, surpreender-nos-ão, mostrando-nos a contramão do desejo de Deus.
O projeto do Senhor é a vida, é a abundância de vida, a vida em excelência total em Cristo. De repente, o fim de um relacionamento pode ser a via que nós podemos estar vislumbrando como certa, e na verdade Deus está na contramão dessa ideia; o contrário também pode ser verdade; uma mudança de emprego pode ser o caminho do que podemos conceituar como certo, quando na verdade a permanência nele seja a verdade de Deus; mas o contrário pode também ser verdade; de repente achar que ficar sozinho pode ser o mais correto para a vida, quando na verdade a verdade de Deus para nós pode ser a vida a dois; ou o oposto também; não perdoar alguém, poisa maldade que ele me fez é tão grande que não existem, na verdade, motivos para fazer tal coisa, talvez seja a verdade que estejamos abraçando como correta, porém bem sabemos que o verdadeiro discípulo de Cristo deve, antes de levar a sua oferta aos pés do Senhor, reconciliar-se com quem lhe causou dano ou dor, conforme a verdade de Deus para quem quer viver em paz com Cristo...
Tantas outras situações nas quais estamos inseridos sempre vai haver a possibilidade de aprendermos qual o caminho que o Senhor quer; assim como vai haver a chance do nosso coração tentar nos enganar, fazendo como que aceitemos o quadro que se nos apresenta como verdade absoluta vinda de Deus. Neste momento, os nossos olhos, o nosso coração, os nossos joelhos têm que se dobrar diante do Altíssimo, pedindo-Lhe: ensina-me, Pai, o teu caminho para que possa andar na tua verdade, sabendo eu que meu coração é enganoso e pode me levar por trilhas pelas quais me sobrevirão a dor, o sofrimento, o arrependimento e, talvez, até mesmo a morte. É em nome de Jesus que faço esta oração.
NEle que sempre e eternamente é o caminho, a verdade a vida!!!
Jahilton Magno
São Luís, 14.02.12
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