Não consigo aceitar dentro em mim a forma como é apresentado o evangelho que dizem eles ser o de Cristo. Nesse evangelho ocultam (e ocultismo não é aceito pelo Senhor) as verdades factuais que visceralmente acompanham as Boas Novas do Senhor Jesus. As lutas são escondidas, o morrer dia a dia por amor de Cristo nem mencionam; os dilemas da alma que são travados diuturnamente não são expostos; não são citadas as negações que são inegociáveis e impreterivelmente necessárias para o desenvolvimento da caminhada; os abandonos a que o cristão está sujeito não são apresentados; ninguém relata que seremos alvos do ódio de quem simplesmente não aceita o cristianismo como uma única e verdadeira via de conservação da piedade legitima e aceita por Deus. Enfim, essas e tantas outras verdades perdem-se na medíocre apresentação do cristianismo que pode ser qualquer outro, menos o que Jesus viveu e pregou. A prosperidade, as facilidades, as vantagens, só isso é mostrado e o caminho da cruz fica de lado. É ensinado a tomar um atalho em vez da cruz.Essa faca tem dois gumes: um, é que é fácil achar adeptos para esse evangelho, a casa fica logo cheia e as multidões se sentem sequiosas para se embriagarem nessa fonte; o outro lado da moeda é que após receberem esse evangelho (que em Cristo não tem sua fundamentação), ao virem as turbulências da vida, os algozes tão normais na caminhada, e as tribulações tão certas, a mesma multidão começa a definhar na fé, abandonando-a, deixando-se no meio do caminho, e mostrando a substância da qual foi formada a convicção de aceitar aquilo que outrora conheceram como cristianismo.
Mas evangelho de Jesus Cristo não é isso. À frente na caminhada está um mar de lutas, um oceano de provas, uma coroa a ser ganha, mas que não é adquirida sem esforço, nem negações, rendições, perdas, sacrifícios, escolhas, atitudes dignas daqueles que foram chamados para tal. Erremos porque não percebemos que a luta tira o foco da promessa. As turbulências cegam. E alma chega ao mais profundo da sua ignorância: é melhor voltarmos pro Egito. O entendimento somente consegue conceber que é melhor ser escravo que arriscar; é melhor sofrer a escravidão que se jogar numa atitude de fé; é melhor voltar; é mais lógico e confortável aceitar um estado que nunca muda, a tentar uma perspectiva nova em Deus.
Existe um cálculo do qual não podemos nos esquecer, porque há princípios e leis que não podem ser quebradas. Há valores e regras imutáveis na caminhada com Jesus e vez por outras encontraremo-nos entre mares e mortes, cercados pela frente e por trás de situações fora da nossa capacidade humana de entendermos situações nas quais estamos inseridos. E aí a nossa atitude vai revelar do que somos formados. As escolhas estarão diante de nós: voltar a viver a vida de antes, abandonando o chamado para o qual Cristo me projetou? Ou seguir em frente, ainda que seja mediante perdas.
A fileira vai diminuindo quando os rigores do real e verdadeiro cristianismo se apresentam. Vão ficando pelo caminho os votos produzidos apenas nos lábios, mas sem raízes no coração; pelo caminho vão se perdendo os projetos, porque não houve um cálculo exato dos critérios a serem seguidos. Cristianismo é decisão dia a dia; é compromisso sendo renovado a cada manhã; é abandono de si mesmo minuto a minuto; é prova da fé e certeza de lutas. Pois se outro evangelho é pregado que não seja de Jesus Cristo de Nazaré, é maldito.
Se há uma idéia em seguir sem negações e sem colocar a mochila da renúncia, continuemos andando na estrada onde estivermos, mas tendo a certeza de que apenas trilhamos rumo à porta larga. A estreita está no lado inverso dos passos.
Nele, que nunca nos escondeu a verdade da luta.
São Luís, 05.03.11
Jahilton Magno
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