Recordei-me na manhã de ontem da minha avó. E foi num momento de oração. Chorei bastante, derramei lágrimas e mais lágrimas e pedi perdão a Deus por alguns erros que cometi em relação a ela. Não necessariamente que eu a tenha ofendido, não. Pequei porque amei menos, porque escutei menos, porque me envolvi menos, porque segui menos o seu exemplo de santidade e de amor a Deus. Sua devoção e sua fé parecem-me que agora estão me marcando ainda mais e estão me fazendo refletir ainda mais sobre a minha própria vida e a minha própria existência como discípulo de Cristo. Isto porque o seu exemplo de oração e de fervor me são como um desafio vivo e próximo. Vi, testemunhei, experimentei essa companhia dias e dias e não os acompanhei mais ainda porque eu mesmo não fiz o que era correto que era seguir o seu exemplo.
Nos idos de 90 ela soube da notícia que estava com um tumor maligno (câncer) e o médico lhe disse que ela teria que sofrer uma intervenção cirúrgica. Na época eu ainda não tinha tomado a decisão de seguir Jesus. Pensei que isso lhe seria um golpe muito forte e abalar-lhe-ia a fé. Certamente que foi, mas sendo-o, em momento algum demonstrou. Pelo contrário, aquilo mais ainda a fez buscar ao seu Redentor, como ela gostava de dizer. Orou e jejuou bastante, buscou intensamente a face de Altíssimo. Sua fé se alicerçava ainda mais a cada dia que passava, e ainda que Deus não mudasse a sua situação, tinha ela entregue a sua causa diante do trono e nessa atitude descansava na certeza de que uma resposta o Pai lhe daria.
Certo é que, passado um tempo, foi fazer novo exame e para a surpresa do médico e sem explicação humana e científica, o tumor sumiu. A sua fé mais uma vez lhe fez vencer barreiras. Conto isso – e Deus sabe a sinceridade do meu coração – como alguém que presencialmente viu e testemunhou. Não escutei de outros, não li em jornal, não recebi um email, não fiquei sabendo pelo msn, ou por site de entretenimento ou notícias. Vi-o como fato.
Ela acordava todos os dias pelas madrugadas e ajoelhava-se aos pés da cama e cantando e chorando e orando e pedindo e intercedendo e louvando, entregava-se consciente e fervorosamente na busca de Deus. Seu Deus não era um Deus distante; seu Deus não era ausente e alheio a sua vida; seu Deus não era despreocupado. Seu Deus lhe recebia e enchia-lhe de uma certeza tão grande e fortalecia sua fé. Seus olhos eram voltados ao alto e sua consciência de eternidade era plena em suas atitudes. Sua piedade não era vestida de falsidade, nem da vontade de impressionar ninguém. Seu desejo pela palavra e seu prazer nela era algo que causava admiração. Minha Vó era ímpar no Reino de Deus, não porque ela assim o quisesse, mas porque aprendeu a viver a vontade do Pai.
O seu exemplo, o seu legado – não deixou nada escrito em palavras, pois ela mesma não era dotada de tanto saber. Lia tão pouco, mas sabia escrever o seu nome. Minha Vó era humilde. Era uma pessoa simples. Mãe de dois meninos e duas meninas. Criou-os com amor e amou-os até os últimos momentos da sua vida. Criou-me também e creio que por isso desde cedo intercedeu pela minha vida e pela minha família. Quando me converti ela exultou pela decisão, e louvou a Deus com tanto júbilo. Foi quando tentei aprender a orar com ela. Muitas vezes fui para a casa dela tentar aprender como se fazia. Ela passava tantas horas com Deus que isso me mexia. Em alguns momentos, na casa dela, ela me levantou pelas madrugadas para orar, e quando não demorava muito eu estava de joelho e dormindo, enquanto ela amanhecia o dia numa intimidade com seu Pai.
Hoje fico pensando em como minha Vó viveu para Deus, de como dedicou-lhe a única coisa que de mais valor tinha: sua vida. Ia à igreja com freqüência, mas não o fazia com legalismo, fazia-o com amor. Buscou a Deus durante todos os seus dias com a mesma intensidade e cada dia com mais fé, acreditando sempre na promessa de Deus. Recordo-me bem, como se hoje fosse, quando da primeira vez que teve um derrame e ficou sem falar e eu fui dormir com ela no hospital e quando lá cheguei, chorei muito. Aquela situação me tomou de um sentimento de dor e incapacidade enormes. Chorei e chorei e chorei. Eu já tinha aceitado Jesus, e como se quisesse ainda que ela provasse ainda alguma coisa para mim eu lhe perguntei: VÓ, A SENHORA AINDA ACREDITA NO SENHOR? E disse-lhe que, se sua resposta fosse sim, que ela apenas piscasse pra mim, já que não podia falar. Ela, mesmo naquele estado, não hesitou um segundo e piscou fortemente para mim e com a mão, do lado que não foi afetado pelo derrame, apertou a minha. Eu chorei novamente. Para falar a verdade eu não sabia o que fazia. Um turbilhão de emoções naquele momento me tomou.
Com sua atitude, piscando os olhos para mim, era como se ela respondesse: meu filho, por acaso é necessário eu estar bem para seguir meu Deus? Por acaso eu vou abandonar a minha fé no meu Redentor que vive, somente porque estou aqui nessa cama? Somente porque nesse momento eu não estou andando? Meu filho, esse corpo corruptível se corrompe, ele se desfaz, ele sofre derrame, ele sofre paralisia, ele desfalece, mas, meu neto e meu filho, o meu corpo interior, a minha alma, o meu interior, ela se renova dia a dia em Deus. O tempo está passando e a minha fé continua no meu Senhor. Jeová está ao meu lado e me assiste. Meu filho, entenda que a minha fé está no meu Deus e essa fé vem daqui de dentro, não vem de fora, não vem desse corpo, que sofre com o tempo. Eu já tenho mais de 60 anos, o meu tempo está chegando. Mas o meu interior continua novo e novo e novo. Meu Deus está comigo e me renovando. Aprenda, meu filho, aprenda a confiar no Nosso Deus, aprenda a andar com Deus, aprenda que andar com Deus é andar pastos verdejantes de descanso para alma, ainda que as circunstâncias não sejam nem um pouco favoráveis. Meu filho aprenda que a minha boca não fala e o meu corpo não se move, mas a minha fé esta de pé e falando dia a dia diante do Trono de Deus.
Minha Vó não tinha muita educação. Ela fez minha mãe professora. Ele fez este neto que aqui se derrama diante de você que lê esse texto agora, ser professor, formar-se em Letras. Minha Vó não deixou nada registrado em palavras, agora estou começando essa caminhada. Mas ela escreveu sua vida na minha vida e na vida de muitos que andaram com ela.
Obrigado, Vó pelo seu ensino de vida. Não foi ensino de palavras, mas de exemplo prático. Devo minha vida a você. Devo meu ministério a ti e vou fazer tudo que for possível para seguir o exemplo de fé e amor a Deus. Eu te amo e quantas vezes não disse isso. Que Deus saiba disso e vou lutar a luta que me esta proposta até o dia que nos encontrarmos novamente.
Deus abençoe todos os que ainda têm sua avó. E viva olhando para o alto, não para as circunstâncias que te cercam nesse momento.
NaquEle que renova a nossa fé de dia em dia.
Jahilton Magno
São Luis,
24.07.09
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